
Tem gente que entra na nossa vida como um sopro de esperança. Vem devagar, com sorriso fácil, palavras doces, promessas simples que tocam fundo. A gente acredita. A gente quer acreditar. Porque tem momentos em que tudo que a gente precisa é sentir que alguém escolheu ficar. E quando o mundo começa a duvidar dessa pessoa, quando as vozes ao redor alertam, quando os sinais estão gritando… a gente tapa os ouvidos. Fecha os olhos. E defende. Porque o amor, quando é cego, também é surdo. E, muitas vezes, mudo diante das verdades que se recusam a ser ouvidas.
Defender alguém é um ato bonito, mas perigoso. Quando a gente segura a mão de quem nos faz mal, o tempo cobra. E cobra caro. A gente perde o chão, perde o rumo, perde até quem a gente era antes dessa história começar. E o pior de tudo é perceber que, no fundo, todo mundo estava certo. Menos a gente. Aquele amor que parecia forte era um peso. Aquele cuidado era controle. Aquela presença era prisão. E no fim, a gente entende: a pessoa que a gente tanto protegeu era, de fato, o próprio perigo.
O coração da gente tem essa mania de fazer silêncio quando devia gritar. E gritar quando devia se calar. A gente silencia a dor, ignora os incômodos, engole as decepções. “É só uma fase”, a gente diz. “Vai melhorar”, a gente acredita. E assim, vai se afundando. Lentamente. Como quem pisa em areia movediça achando que está em terra firme.
Não é vergonha errar por amor. Vergonha é não aprender. Porque a dor, quando não ensina, repete. A gente precisa aceitar que algumas pessoas vêm só para mostrar o que a gente não quer mais viver. Elas não ficam, e não era pra ficarem mesmo. Vieram como lição, não como lar.
É duro encarar o espelho depois de se machucar por alguém. Ainda mais quando a gente lembra de quantas vezes gritou ao mundo: “Ele (ou ela) não é assim”. A vergonha não é por ter amado, é por ter insistido. A ferida maior não é o fim, é a consciência de que o amor todo foi entregue a alguém que não soube — ou não quis — cuidar.
Mas passa. Passa porque o tempo tem um jeito especial de curar. Não apaga tudo, mas ensina a olhar com outros olhos. A lembrar sem doer. A entender que se defender alguém que te faz mal foi um erro, foi também um passo para o crescimento. Porque quem nunca caiu, nunca aprendeu a levantar.
Hoje, se alguém me perguntar se valeu a pena, eu não saberei responder com certeza. Mas sei que tudo aquilo me ensinou a me escolher. A ouvir mais quem me ama de verdade. A não calar meus incômodos só para manter alguém por perto. E principalmente, a nunca mais defender o indefensável só porque eu queria tanto que desse certo.
Se você está passando por isso agora, escute: o amor verdadeiro não precisa ser justificado o tempo todo. Quem é bom pra você, prova com atitudes, não com desculpas. Quem vale a pena, faz leve o que o mundo já faz pesado. E quando todo mundo diz que você merece mais, talvez seja hora de ouvir.
Não se culpe por ter amado. Culpa tem quem mentiu, manipulou, machucou. Você só queria ser feliz. E isso nunca vai ser errado.