
Há dores que não vêm do que foi dito, mas do que nunca chegou a ser. A ausência de um “sinto muito”, um “você não merecia isso”, um simples “eu errei”. O silêncio, quando substitui desculpas, não cicatriza ferida alguma apenas a mantém aberta, esperando algo que não virá. E é aí que mora uma das maiores crueldades emocionais: quando o outro segue a vida como se nada tivesse acontecido, enquanto você tenta juntar os pedaços que ficaram em suas mãos.
O silêncio não encerra ciclos. Ele os prolonga. Ele não tranca a porta; apenas a deixa entreaberta, permitindo que a mente volte ali, volte mais uma vez, e depois de novo. Porque o que não é explicado, a gente tenta explicar. O que não é fechado, a gente tenta fechar. E o que não é dito, a mente insiste em completar muitas vezes com dor, culpa e suposições que não merecíamos carregar.
Em algum momento, eu precisei entender que não receber desculpas também é uma resposta. Dura, áspera, difícil de aceitar mas ainda assim uma resposta. Talvez a mais verdadeira de todas. Porque o pedido de perdão nem sempre falta por falta de culpa, mas por falta de caráter. Por falta de coragem. Ou simplesmente porque a pessoa nunca enxergou o estrago que fez, e gente que não enxerga o estrago não sabe reparar nada.
Foi então que percebi: tenho que construir meu próprio fechamento. Mesmo que isso signifique juntar frases quebradas, perguntas que nunca serão respondidas e pedaços de histórias que terminam antes do fim. Fechamento não é algo que o outro entrega; é algo que a gente constrói, mesmo tremendo por dentro.
Perdoar alguém que nunca pediu perdão é um processo lento. Não é nobreza é necessidade. É decisão de seguir. É escolher não carregar o peso de quem sequer reconhece a própria sombra. É libertar-se de esperar pelo que nunca virá. Algumas pessoas nos deixam feridas, mas nos deixam também algo mais: a chance de aprender a nos curar sem depender delas.
A parte mais amarga desse tipo de cura é perceber que o silêncio do outro obriga a gente a dialogar com nossas próprias dores. Ele nos força a olhar para dentro, a revisitar o que doeu, a nomear o que ficou, a aceitar que não haverá respostas. Mas, aos poucos, o que era buraco vira cicatriz. E cicatriz não dói — lembra.
Com o tempo, a gente entende que desculpas não mudam o passado. Elas apenas aliviam o presente. E quando elas não vêm, cabe a nós aliviar esse presente sozinhos. Sim, é injusto. Sim, é pesado. Mas também é libertador. Porque a falta de desculpas revela algo essencial: quem realmente tem maturidade emocional e quem nunca teve.
A verdade é simples, dolorosa e libertadora: nem todo mundo vai reconhecer o que fez. Nem todo mundo vai se importar. E está tudo bem. Porque, ao final, o fechamento é nosso. A cura é nossa. E a decisão de seguir adiante também. E é justamente aí, nesse passo silencioso e firme, que enfim encontramos paz.