
As pessoas podem ter opinião sobre tudo, mesmo sem o menor preparo. Essa é uma das belezas da democracia. E uma das tragédias, claro. Porque, sejamos sinceros, se bastasse ter opinião para ter razão, já estaríamos vivendo no paraíso. Mas não: vivemos no barulho.
O curioso é que, quanto menos a pessoa entende de um assunto, mais segurança ela tem ao opinar. É como aquele tio no churrasco que nunca estudou economia, mas tem certeza de que sabe como resolver a inflação em cinco minutos. Ou o vizinho que nunca abriu um livro de medicina, mas garante que descobriu a cura milagrosa para qualquer doença no WhatsApp. Democracia é isso: palco para especialistas e para especialistas de si mesmos.
A graça e o drama é que a democracia não tem filtro. Ela não pergunta se você estudou, se você pesquisou, se você sabe do que está falando. Ela apenas entrega o microfone e diz: “Vai lá, brilha!”. E a pessoa brilha. Brilha tanto que, às vezes, cega os outros com tanta convicção.
E, veja bem, não é só que todo mundo fala. É que todo mundo acha que deve falar. E mais: acha que o mundo precisa ouvir. O direito de expressão virou quase um dever cívico de dar palpite. Não importa se é política, ciência, arte, futebol ou astrologia: sempre haverá um sábio de ocasião pronto para decretar a verdade do dia.
O resultado? Uma praça pública lotada, onde ninguém escuta ninguém, mas todos têm certeza de que estão dando uma aula magna. O volume da voz virou critério de autoridade. A frase de efeito, ainda que vazia, vale mais que o argumento sólido. E quem tenta explicar com calma, bom… esse é chamado de chato.
Mas é claro que isso tem o seu charme. É divertido, às vezes até engraçado. Democracia é esse espetáculo tragicômico onde o riso e a vergonha alheia andam de mãos dadas. É o palco do improviso, onde cada um interpreta seu papel sem ensaio prévio. A plateia, que também é elenco, aplaude, vaiando ou compartilhando.
No fim das contas, é impossível não reconhecer a beleza disso tudo. A liberdade de falar o que quiser, mesmo que seja bobagem, é um privilégio que muita gente ainda não tem em outros cantos do mundo. É linda, essa bagunça. Mas é justamente aí que mora a tragédia: porque quando todo mundo fala ao mesmo tempo, a chance de ouvirmos algo realmente sensato fica cada vez menor.
E assim seguimos, entre risadas e desastres, aprendendo que a maior virtude da democracia talvez seja também a sua maior piada.