
Existe uma verdade silenciosa que acompanha cada passo da nossa vida: tudo é temporário. É curioso como sabemos disso, mas insistimos em viver como se as coisas fossem eternas. Talvez seja a nossa mania de tentar segurar o que é bom e empurrar para longe o que dói. Mas a vida não funciona assim. Ela não pede licença, não negocia, não adia. O que é pra ser, nasce; o que não é, termina. E quase sempre sem aviso prévio.
Se as coisas estão bem, aproveite. Não com a pressa de quem teme o fim, mas com a presença de quem reconhece o privilégio do instante. Nada do que é bom dura para sempre mas exatamente por isso, o que é bom precisa ser vivido de verdade. Quantas vezes deixamos a felicidade passar porque estávamos ocupados demais tentando prever o futuro? Quantas vezes o medo de perder nos fez perder antes da hora?
Tudo que é leve merece espaço. Tudo que é sincero merece tempo. E tudo que é raro merece atenção. O resto a vida misma se encarrega de levar.
Por outro lado, quando as coisas vão mal, mesmo que pareça interminável, não se engane: também passa. A dor não conhece eternidade. O sofrimento não sabe permanecer. Da mesma forma que a alegria se esgota, o caos também cansa e vai embora. E, no silêncio que fica depois da tempestade, a gente percebe que sobreviveu ao que achava que não conseguiria.
O tempo tem uma habilidade estranha: ele arruma o que a gente não tem força ou coragem de reorganizar. Pessoas que apertam, saem. Situações que sufocam, se dissolvem. Sentimentos que adoecem, desbotam. E o que permanece… ah, isso sim merece nossa consideração. Porque o temporário também ensina a reconhecer o essencial.
A grande questão é que confundimos apego com amor, medo com intuição, insistência com força. Não é. O que precisa ficar, fica sem esforço. O que precisa partir, encontra um jeito. E o que precisa mudar, muda mesmo que a gente tente segurar.
A impermanência não é uma ameaça. É uma libertação. O temporário impede que a gente se torne prisioneiro de dores antigas ou guardião de felicidades vencidas. Ele lembra que a vida é movimento, não museu. Que a gente pode recomeçar. Que aquilo que hoje dói, amanhã talvez ensine. Que aquilo que hoje pesa, amanhã talvez se dissolva. Que aquilo que hoje faz falta, amanhã talvez não faça sentido.
A verdade é simples e implacável: nada dura para sempre e está tudo bem. Há beleza no que termina e sabedoria no que começa. O tempo não leva só o que é ruim; ele também afasta o que já não faz sentido, o que não nos reconhece mais, o que não conseguimos mais sustentar.
E quando entendemos isso, algo muda dentro da gente. Surge um silêncio novo, uma maturidade discreta, uma serenidade que não precisa gritar.
Porque, no fim das contas, a maior paz vem quando a gente aceita que tudo é temporário. E que por isso mesmo, cada instante merece ser vivido e não temido.