
Cuidado com o amanhã. O amanhã tem uma estranha mania de ser sempre tarde demais.
A gente cresce acreditando que o tempo é generoso. Que o amanhã é um campo aberto, pronto para acolher tudo o que hoje nos pesa. E é por isso que adiamos conversas, sentimentos, decisões e até pequenos gestos — porque a gente insiste em imaginar que terá chance depois.
Mas o amanhã não é gentil.
Não é paciente.
E, definitivamente, não tem obrigação nenhuma de nos esperar.
Cuidado com o amanhã, porque ele cobra com juros tudo aquilo que você empurra para frente achando que vai resolver sozinho. A vida não se move por milagre: ela se move por coragem, e coragem não costuma morar no amanhã mora no agora.
Não é só sobre mágoa.
Não é só sobre amor.
É sobre tudo aquilo que você posterga acreditando que o tempo é seu cúmplice, quando na verdade ele está cansado de te avisar que não é.
Quantas vezes você já disse para si mesmo: “Eu resolvo isso amanhã.”
E amanhã veio frio, apressado, distante e você descobriu que o que era difícil ontem se tornou impossível hoje?
Nós não adiamos apenas perdões.
Adíamos verdades.
Adíamos recomeços.
Adíamos limites.
Adíamos sonhos.
Adíamos cuidados com a saúde emocional.
Adíamos decisões que poderiam mudar a rota inteira da nossa vida.
E o mais cruel é que o amanhã não faz barulho quando fecha a porta.
Ele simplesmente fecha.
A mágoa?
Sim, ela também entra nesse jogo. Às vezes guardamos tanto, seguramos tanto, que confundimos a dor momentânea com o fim definitivo.
E só percebemos tarde demais que havia espaço para cura, que havia espaço para conversa, que havia espaço até para um novo capítulo mas preferimos deixar para depois.
E depois não veio.
Mas o texto não é só sobre isso.
É sobre o que você perde quando vive acreditando que sempre poderá tentar novamente.
É sobre os “quase”, os “por pouco”, os “se eu tivesse falado”, os “se eu tivesse ficado”, os “se eu tivesse tentado”.
Amanhã é o território perfeito da ilusão é onde escondemos tudo o que não temos coragem de enfrentar hoje.
E o preço?
Sempre chega.
Sempre dói.
Sempre surpreende.
Talvez o grande enigma da vida esteja aqui:
não é o amanhã que é tarde é a nossa esperança de que ele será melhor do que o hoje, mesmo quando nada é feito para isso acontecer.
Amanhã não cura o que você não toca.
Amanhã não repara o que você não enfrenta.
Amanhã não salva o que você abandona.
Amanhã não devolve quem se cansa de esperar.
Por isso, cuidado:
Se hoje já está difícil, amanhã pode ser impossível.
Se hoje pesa, amanhã pode quebrar.
Se hoje ainda dá para resolver… resolva.
O amanhã tem uma mania estranha.
E quase sempre, quando chega, chega tarde demais.
— Andre Luiz Santiago Eleuterio