
Tem dias em que eu acordo pronto para lidar com um problema específico aquele que já estava reservado, que inclusive eu tinha separado um espaço emocional para administrar. Mas aí a vida, sempre muito criativa, decide me enviar um brinde: outro problema, maior, mais barulhento e completamente sem senso de oportunidade, querendo roubar o protagonismo do primeiro.
É como se meus problemas acreditassem que vivem num reality show.
Um levanta, arruma o cabelo e diz: “Agora é minha vez de causar.”
O outro responde: “Amado, não se ache tanto. Eu cheguei agora e já mereço atenção especial.”
E eu no meio, só desejando um intervalo comercial.
E o mais curioso é que eles nunca chegam quando estou leve, tranquilo, hidratado emocionalmente. Não. Eles surgem exatamente quando estou ocupadíssimo tentando manter de pé o caos anterior. É um festival de falta de educação emocional.
Sinceramente? Problema que chega sem ser chamado deveria, no mínimo, respeitar a ordem de chegada.
Eu já tenho uma fila organizada de mini-colapsos.
Eu administro cada um com a calma possível ou com o desespero disponível.
O que eu não tenho é paciência para problema ansioso, inconveniente e competitivo.
Se a vida quer insistir nesses testes de resistência, tudo bem.
Eu até participo.
Mas eu gostaria humildemente que meus transtornos pessoais aprendessem o básico:
esperar a vez, manter a compostura e não tentar me enlouquecer por atropelamento emocional.
No fundo, eu peço pouco.
Pedindo quase nada.
Só peço que meus surtos diários adotem um mínimo de etiqueta.
Se até os colapsos tiverem educação, talvez eu consiga enlouquecer com mais estilo e menos pressa.