O preço da dopamina barata — por André Luiz Santiago Eleutério

Foto de André Luiz Santiago Eleutério, autor do Pensamento Diário com reflexões emocionais sobre a vida
André Luiz Santiago Eleutério

Vivemos em um tempo em que tudo parece estar ao alcance de um toque.

A felicidade virou um produto instantâneo, entregue em forma de notificações, curtidas e pequenos picos de prazer.

Mas por trás dessa aparente liberdade, existe uma prisão silenciosa.

É curioso como nos acostumamos com o efêmero.

A cada vibração do celular, sentimos aquele breve arrepio de satisfação. Um instante depois, o vazio volta e lá estamos nós, rolando a tela mais uma vez, em busca de algo que nem sabemos nomear.

É um ciclo disfarçado de distração, mas que na verdade revela carência. Uma carência profunda de sentido, de presença, de verdade.

Chamam isso de “dopamina barata”.

E talvez seja mesmo o novo vício invisível do nosso tempo.

Porque ela nos oferece o prazer sem o processo, a sensação sem o esforço, o sorriso sem o motivo.

E quando tudo fica fácil demais, o significado se perde.

A dopamina barata é o atalho que nos afasta daquilo que realmente importa.

Enquanto corremos atrás de recompensas rápidas, esquecemos de viver os prazeres lentos aqueles que nascem da paciência, da criação, do silêncio e da entrega.

Aprender algo novo, cultivar uma amizade, cuidar do corpo, ler um bom livro, estar presente com alguém… tudo isso exige mais do que um clique.

Exige tempo.

E tempo é justamente o que deixamos de dar a nós mesmos.

O problema é que esse tipo de prazer artificial nos condiciona.

Começamos o dia precisando de estímulos para sentir algo, e terminamos a noite exaustos de tanto sentir nada.

A alma vai ficando anestesiada.

E quanto mais tentamos preencher o vazio, mais ele cresce porque estamos tentando alimentá-lo com o que não nutre.

Talvez o antídoto esteja em desacelerar.

Em buscar prazeres mais profundos, que não cabem em telas nem cabem em pressa.

Em reaprender o valor da espera, da disciplina, do desconforto que vem antes do crescimento.

A dopamina cara a que vem do esforço, da entrega e da presença não é tão excitante, mas é mais verdadeira.

Ela não nos dá o prazer imediato, mas constrói em nós algo que não se apaga quando a notificação some.

É nela que a paz mora.

Reconhecer esse ciclo é o primeiro passo para escapar dele.

E talvez o maior ato de rebeldia hoje seja simplesmente escolher sentir devagar.

Porque no fundo, o que mais falta ao mundo não é estímulo.

É profundidade.

— AndreLuiz Santiago Eleutério

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