O peso da produtividade e a leveza de ser humano-Por André Luiz Santiago Eleutério

Foto de André Luiz Santiago Eleutério, autor do Pensamento Diário com reflexões emocionais sobre a vida
André Luiz Santiago Eleutério

A gente abre as redes sociais e é surpreendido por tutoriais de como ser mais produtivo, mais feliz, mais focado. As timelines estão cheias de frases de impacto, gurus da motivação e promessas de uma vida perfeita, organizada, cheia de energia e sem espaço para falhas. Mas será que a vida real é mesmo feita dessa perfeição em série? Será que ser humano, com suas limitações e cansaços, deixou de ser suficiente?

A verdade é que existe uma cobrança silenciosa que atravessa a nossa rotina. Não basta trabalhar, temos que trabalhar melhor, mais rápido e com um sorriso no rosto. Não basta descansar, temos que descansar de forma estratégica, quase como se fosse mais uma meta a ser cumprida. Não basta viver, é preciso mostrar ao mundo que estamos vivendo bem. E quando não conseguimos atingir esse padrão, nasce a culpa. Uma culpa pesada, que nos faz acreditar que estamos sempre aquém, sempre atrasados, sempre insuficientes.

Mas quem foi que decidiu que ser humano não basta? Quem estabeleceu que só merecemos valor quando estamos no auge da produtividade? O que muitos esquecem é que a vida é feita também de pausas, de silêncios, de momentos em que nada acontece e está tudo bem assim. É no descanso que recuperamos forças, é na falha que aprendemos, é no erro que encontramos espaço para crescer. Porém, essa narrativa não costuma viralizar. Talvez porque não seja tão vendável, talvez porque não gere tantos cliques. Afinal, assumir que estamos cansados, falhos e vulneráveis não dá tanto engajamento.

A vida, no entanto, não é feita de engajamento. Ela é feita de carne, de osso, de sentimentos e de limites. É importante lembrar que ser humano já é, por si só, uma experiência complexa e desafiadora. E não precisamos o tempo inteiro estar na melhor versão. A melhor versão, na verdade, pode ser apenas aquela em que conseguimos existir com dignidade, em que nos permitimos ser de verdade, sem máscaras e sem imposições.

Talvez o que falte nas redes sociais seja um espaço maior para o simples. Para a normalidade, para a vida sem filtros, para o dia que não deu certo, para o projeto que fracassou, para a rotina que cansa. Isso também faz parte da jornada, e ignorar essa dimensão só cria uma realidade artificial, que oprime ao invés de inspirar.

Então, se hoje você está cansado, se não conseguiu ser tão produtivo quanto gostaria, se sua felicidade não está estampada em frases motivacionais, saiba que está tudo bem. Você continua sendo humano, e isso já é imenso. Não existe manual perfeito para viver, porque a vida não cabe em tutoriais de trinta segundos. Ela é imprevisível, falha e, justamente por isso, verdadeira.

No fim das contas, o maior aprendizado pode ser aceitar que não precisamos ser perfeitos o tempo inteiro. Podemos simplesmente ser humanos e talvez aí esteja a forma mais sincera de viver.

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