A dor de falar com quem não escuta: Por André Luiz Santiago Eleutério

Foto de André Luiz Santiago Eleutério, autor do Pensamento Diário com reflexões emocionais sobre a vida
André Luiz Santiago Eleutério

Tem coisas que a gente só entende depois de muito insistir. Depois de tentar conversar, de tentar explicar, de abrir o peito e dizer com toda a calma o que está machucando. A gente fala com cuidado, com esperança, esperando que a outra pessoa perceba, mude, entenda. Mas tem gente que simplesmente não enxerga o próprio erro. E pior: age como se o problema fosse nosso, como se estivéssemos inventando dor onde só existe falta de atenção, de respeito, de empatia.

Chega uma hora em que a ficha cai. E cai de um jeito duro. A gente entende que não adianta mais falar. Que continuar tentando é só mais uma forma de se ferir. Porque a pessoa que te machuca não se vê como alguém que erra. Ela não se questiona, não reflete, não se coloca no seu lugar. Ela apenas segue, achando que tudo o que faz é normal, aceitável, justo. E quando você tenta mostrar que não é bem assim, ela vira o rosto, desvia a culpa, faz você parecer o errado da história.

Esse é um dos aprendizados mais amargos da vida: perceber que não adianta abrir o coração para quem não tem espaço nem vontade de acolher o que você sente. Porque tem gente que não quer crescer, não quer mudar, não quer olhar para dentro. E se você insiste, acaba se diminuindo, se culpando, se cansando.

É um tipo de solidão que dói em silêncio. Porque você está ali, do lado de alguém, mas ao mesmo tempo se sente sozinho. Se sente ignorado, invalidado, como se a sua dor fosse invisível. E por mais que você fale, nada muda. A mesma atitude se repete. O mesmo descaso. A mesma frieza.

A gente demora, mas aprende que não vale a pena continuar insistindo em alguém que não quer ouvir. Porque amor não é isso. Respeito não é isso. Quando existe cuidado, existe escuta. Existe arrependimento, vontade de fazer diferente, de melhorar. Mas quando a pessoa não vê problema nas próprias atitudes, qualquer tentativa de conversa vira um desgaste inútil. É como gritar num quarto vazio. A sua voz não encontra retorno.

Então vem o silêncio. Mas não aquele silêncio de quem desistiu do outro. É o silêncio de quem começou a se escutar. De quem entendeu que não precisa se ferir para tentar consertar o que só o outro pode mudar. É um silêncio de proteção, de maturidade. Um silêncio que acolhe, que cura devagar.

E aí você começa a se afastar. Não por vingança, não por raiva. Mas por amor próprio. Porque se você não se respeitar, ninguém vai fazer isso por você. E é nesse afastamento que vem a paz. Triste, sim. Mas necessária. Porque algumas relações não terminam com brigas. Terminam com o silêncio de quem cansou de tentar.

Você para de esperar o pedido de desculpas, para de sonhar com uma mudança que nunca chega. E aceita. Aceita que tem gente que não vai entender, que não vai reconhecer, que não vai melhorar. E tudo bem. Porque o mais importante é você se livrar do peso de tentar carregar uma relação sozinho.

A dor de não ser ouvido é real. Mas a libertação de parar de se explicar para quem não quer entender também é. E é nesse ponto que a vida começa a mostrar novos caminhos. Mais leves, mais verdadeiros, mais seus.

O silêncio, muitas vezes, é a resposta mais honesta que a gente pode dar. Porque ele diz tudo o que a palavra não alcança. E, acima de tudo, ele preserva o que ainda resta de você.

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